𝗖𝗼𝘃𝗶𝗱-𝟭𝟵 𝗲 𝗼 𝗕𝗿𝗮𝘀𝗶𝗹: 𝘂𝗺𝗮 𝗹𝘂𝘇 𝗻𝗼 𝗳𝗶𝗺 𝗱𝗼 𝘁ú𝗻𝗲𝗹?

 “Pois a zona de conflito é minha zona de conforto”. Esta frase, de autoria de Black Alien, respeitável MC brasileiro, ajuda a definir a estratégia política de alguém não tão respeitável assim: Jair Messias Bolsonaro. O bolsonarismo cresce a partir da tensão, semeando a polarização na sociedade, atacando as instituições e assim demonstra extrema falta de apreço pela nossa jovem, e doente, democracia.

No dia 24/03, o presidente brasileiro fez um pronunciamento assustador, mas que explica a forma como irá lidar com a crise. Por um lado, a tática será atacar os governadores e prefeitos que tomaram medidas de combate ao Covid-19, responsabilizando estes pela recessão econômica. Em outra frente, assume que irão morrer muitos por conta desta “gripezinha”, mas julga ser um mal necessário para “salvar a economia”. Este discurso pegou mal, o povo reagiu, o presidente recuou, e voltou a se pronunciar no dia 31/03. Desta vez, um discurso embaraçado e tardio, que serviu para reafirmar a má vontade em lidar com a pandemia.
É na periferia que o capitalismo mostra sua verdadeira face, e Bolsonaro é o retrato do neoliberalismo com requintes de crueldade, um governante que, diante do sofrimento do povo, afirma: “Deixe que morram! Precisamos salvar a economia”. Jair e sua trupe não sofrerão as mazelas do Covid-19, estarão em suas casas, bebendo espumante, assistindo a barbárie. Como diz um conhecido provérbio: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.
O Governo de Bolsonaro não mede esforços para para socorrer os grandes empresários e acalmar o mercado financeiro. Lamentavelmente, não demonstra esta prontidão para auxiliar pequenos e micro empresários, que empregam mais de 52% da mão de obra formal e muito menos para otimizar a liberação de auxílios à classe trabalhadora.
Mais do que nunca, o Brasil clama por uma frente democrática forte, empenhada em combater o Covid-19. E os esforços estão se concretizando! Governadores e prefeitos — mesmo aqueles alinhados ao discurso bolsonarista — se mobilizam em um amplo esforço para “achatar a curva”. Outra vitória significativa foi a aprovação, pelo Legislativo, do Projeto de Emenda Constitucional do Orçamento de Guerra, que prevê um regime extraordinário para despesas decorrentes do combate a pandemia. Cabe mencionar a importante atuação da frente parlamentar de esquerda e centro-esquerda, que conseguiu aprovar o auxílio emergencial entre R$ 600,00 e R$ 1.200,00 e será pago durante três meses, garantindo um mínimo para milhares de trabalhadoras e trabalhadores — o governo havia proposto apenas R$ 200,00.
A disputa de narrativas segue aberta e seu desfecho será fundamental para assegurar a derrota do bolsonarismo. Cabe a nós demonstrar para a população que a responsabilidade pelo crescimento da pandemia é a atuação criminosa do Governo Bolsonaro. Neste sentido, importantes lideranças do campo progressista assinaram um documento cobrando a renúncia do presidente.
Por fim, fica aqui uma última reflexão: é possível a saída do presidente, seja via renúncia, seja via impeachment? Em minha avaliação, não. A conjuntura é incerta. Os militares sinalizam o descontentamento em relação a forma como o governo lida com a pandemia. Por outro lado, o bolsonarismo é apoiado por considerável parcela dos grandes empresários e do mercado financeiro que, infelizmente, possuem forte capacidade de pressão política. Além disso, a base popular de Bolsonaro continua forte, mobilizando entorno de 25% da população. Cabe questionar também o interesse do congresso em articular o afastamento do presidente, afinal é um processo extremamente desgastante. Me parece que os poderes estão construindo alternativas a ingerência do executivo, enquanto isso, Jair brinca com a faixa presidencial.
A solidariedade, princípio central da nossa luta, deve ser um exercício cotidiano, não podemos abandonar nossos irmãos e irmãs. É cada vez mais evidente que a saída desta crise depende de todos nós, juntos!

Pedro Basso