O cerco a La Paz


O cerco a La Paz
Bernardo Moreira de Campos

A imagem pode conter: 9 pessoas, pessoas a sorrir, multidãoOs movimentos de transformação social não requerem homens providenciais, não são exclusivos de ninguém e fazem-se com e para o povo. Se há crítica devida a Evo Morales é a de não ter permitido que o progresso económico e social da Bolívia, para o qual as suas políticas tanto contribuíram, tivesse continuidade. Errou nas sucessivas tentativas de contornar a limitação de mandatos, porque não percebeu que a revolução teria mais a ganhar, caso prosseguisse sem ele.


Não obstante esta crítica, hoje, é necessário enjeitar a forma antidemocrática como um Governo que prometeu repetir eleições foi forçado a abdicar pelos altos comandos policiais e militares. Tendo-se observado a aplicação da lei, torna-se impossível ser complacente com a atuação das Forças Armadas bolivianas. O facto de a democracia não se encontrar em perigo legitima a dúvida sobre os verdadeiros motivos subjacentes a este golpe de Estado.

Assim, importa questionar o grau de influência dos interesses económicos nas reservas de lítio bolivianas, tão apetecíveis para o futuro da energia a nível global. Até que ponto é que se assiste à repetição de anteriores intervenções externas dissimuladas em Estados sul-americanos? Simultaneamente, não é possível ignorar o apoio que tais intervenções têm recebido de Chefes de Estado de países vizinhos, interessados na homogeneização doutrinária e religiosa da América do Sul, cuja acção poderá ter instigado este golpe de Estado.

Cabe aos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas compreender a totalidade deste processo, manifestando de forma clara e inequívoca a sua oposição ao golpe em curso.