Até este momento, mais de 300 mil cidadãos americanos contraíram o vírus COVID19, dos quais 8 mil morreram. O Estado de Nova Iorque destaca-se como o Estado em que os números são mais elevados – quase 115 mil infetados e mais de 3500 mortos -, seguido do Estado vizinho de Nova Jérsia com mais de 34 mil infetados e mais de 800 mortos. No entanto, o vírus não se fica apenas pela costa Este, tendo já infetado dezenas de milhares de pessoas em Estados como California, Illinois, Michigan, e a Pensilvânia.
Estes números, apesar de arrepiantes e assustadores,
não são exclusivos à situação americana – basta olharmos para os casos de
Itália, Espanha e França. No entanto, o número de casos e o número de mortes
registadas são consequência de duas características do contexto americano: a
primeira prende-se com a inexistência de um Serviço Nacional de Saúde, de
acesso livre e gratuito, num país onde 11% dos seus habitantes vivem numa
situação de pobreza e não têm possibilidade de ver um médico; a segunda tem que
ver com a (in)ação da administração Trump perante o vírus.
Apesar de ter criado um grupo de trabalho para
responder à pandemia no final de janeiro, não foi até o dia 16 de março que o
presidente americano começou a levar a sério a pandemia que o seu país
enfrentava, à semelhança do presidente do Brasil e do primeiro-ministro britânico
– chegando ao cúmulo de desvalorizar as conclusões do grupo de trabalho que ele
mesmo tinha criado. No entanto, nesse dia 16 de março o presidente finalmente
reconheceu, no seu jeito arrogante e desconcertado, que a situação ‘não estava
sob controlo’, numa altura em que o número de infetados já ultrapassava os 4
mil e o número de mortos era de 87 (uma semana depois, esses número
ultrapassavam os 42 mil e os 555, respetivamente).
Para além da sua inação, Trump e a sua Administração
decidiram entrar em guerra políticas com governadores de vários Estados
afetados pelo vírus, nomeadamente com o governador Cuomo de Nova Iorque. Para
além disso, Kushner (conselheiro do presidente e seu genro) revelou,
insensivelmente, que os Estados não deveriam contar com os ventiladores da
FEMA, uma vez que estes são propriedade do Estado Federal. De referir, também,
o despedimento do capitão do USS Roosevelt, após este ter enviado um comunicado
aos chefes da Marinha no qual pedia que lhe fosse permitido atracar em Guam, a
fim de salvar a vida dos seus marinheiros, num momento em que já tinham sido
infetados mais de 100 pessoas naquele porta-aviões.
Num momento como este, é vital relembrar ao presidente
Trump de que a pandemia é mundial, assim como as suas consequências. Não é tempo
de nacionalismo bacoco, de patriotismo exagerado, das guerras políticas
mesquinhas às quais ele nos habituou, nem de preocupações neoliberais. Senhor
Presidente Trump, a crise sanitária, social, cultural e económica que
enfrentamos requer liderança, coragem, verdade e compaixão. Deixo-lhe, assim,
uma frase de um antecessor seu como conselho:
“It’s amazing what you can accomplish if you do not
care who gets the credit.”
(President Truman).
Tomás Silva, 5 de abril 2020