Moção sobre o Ambiente


Medidas Ambientais
Vasco Pereira

Resumo

Começa a ser evidente e até inegável que vivemos, neste momento, a maior crise do séc. XXI e aquela que ameaça de forma mais radical o nosso modo de vida, a nossa sociedade e até a sobrevivência da nossa espécie. Nesse sentido, é fundamental pensar em propostas necessárias e urgentes para encararmos este novo desafio de forma sustentável, como o encerramento ou reconversão das duas centrais a carvão durante esta legislatura, a aposta em fontes de energia renováveis e não poluentes,  o investimento na eficiência energética nas casas, nas indústrias, no transporte e na iluminação, a valorização da economia circular, entre outras propostas.



Moção

Começa a ser evidente e até inegável que vivemos, neste momento, a maior crise do séc. XXI e aquela que ameaça de forma mais radical o nosso modo de vida, a nossa sociedade e até a sobrevivência da nossa espécie. No último mês de Novembro, esta ideia ganhou ainda mais força com 11 mil cientistas de todo o mundo a subscreverem um artigo publicado pela revista BioScience em que, com base em informações recolhidas e publicadas nos últimos 40 anos sobre uso de energia, temperaturas na superfície da terra, crescimento populacional, extensão de culturas, desflorestação, perda de gelo polar, índices de fertilidade, emissões de dióxido de carbono e Produto Interno Bruto das nações conclui que “é obrigação moral declarar que enfrentamos uma emergência climática”, e que os objectivos necessários para se tentar reverter a situação “exigirão grandes transformações na forma como a sociedade global funciona. Também este mês, o Parlamento Europeu, dando expressão política aos factos científicos, aprovou a declaração de emergência climática e ambiental.
De facto, não é motivo para menos. As últimas investigações vêm dar consistência à ideia, cada vez mais comum, de que o impacto ambiental implica um enorme impacto em toda a sociedade. Vários cientistas da ONU apresentaram evidências. Entre eles o professor Jim Skea, do Imperial College London, que afirmou que as alterações climáticas estão a desencadear, por exemplo, a erosão dos solos ou a acidificação dos oceanos, o que vai afectar significativamente várias estruturas. Já o Prof. Dr. Hans-Otto Pörtner, do Alfred Wegener Institut, avisou ainda que, num cenário em que nada se modifica, se prevê uma subida de 5 metros do nível médio das águas do mar até 2300, e também um menor acesso a nutrientes e oxigénio nos oceanos com o aquecimento dos mesmos, o que terá óbvia influência na segurança alimentar das comunidades piscatórias. Há também evidências claramente negativas no 5º Relatório do IPCC (2014), como um aquecimento global médio de 0,85ºC entre 1880 e 2012, a subida de 20 cm do nível médio das águas do mar desde 1900, a maior acidificação do mar devida à absorção de gases carbónicos, ou o recuo acelerado dos gelos, sendo que consideram bastante provável que o aumento recente de temperatura (as três últimas décadas foram as mais quentes) se deva sobretudo à mão humana. Devido a vetores antrópicos, a emissão de CO2 (dióxido de carbono) aumentou 40%, a de CH4 (metano) aumentou 150% e a de N2O (dióxido nitroso) aumentou 20%. Ainda neste relatório, foram criados quatro cenários de previsões para o futuro – os RCP. O cenário mais pessimista (8,5 RCP) corresponde à inacção contra as alterações climáticas e aponta para um decréscimo de 81% da  área de permafrost, aumento de 4ºC da temperatura média e a subida do nível médio das águas do mar próxima dos 0,8 m até 2100, a possibilidade de degelo total do Oceano Ártico a meio do século e condições para o fim da humanidade. Em Portugal, o impacto no nosso modo de vida fez-se sentir em 2017 nos incêndios de Pedrógão e nas secas, e na erosão de 13 km2 de costa.
Por outro lado, também começa a ficar provado que temos de agir agora sob pena de se tornar demasiado tarde ou um esforço incomportável. O cenário RCP mais optimista (2,6 RCP) aponta para subida do nível médio das águas do mar próxima dos 0,4 m até 2100 e aumento de 1 a 1,5ªC da temperatura média até esse mesmo ano, praticamente constante. Mas isto implica um corte de 70 a 95% das emissões de GEE até 2050 e emissões zero em 2100. Esta projecção chegaria para cumprir o acordo de Paris de 2015 (aquecimento abaixo dos 2ºC e próxima dos 1,5ºC). No entanto, de acordo com um estudo promovido pela Fundação Ecológica Universal em Novembro, esse compromisso não é suficiente para garantir uma redução de 50% das emissões poluentes até 2030, meta que os autores do estudo consideram essencial para mitigar os efeitos das alterações climáticas. Juntando a tudo isto o facto de haver uma discrepância de 30 a 50 anos entre emissões e consequências sensíveis e mensuráveis (ou seja, os efeitos das medidas tomadas agora serão sentidos em 2050-2070), é vital para a sociedade, para o nosso modo de vida e sobrevivência da nossa espécie começar a agir imediatamente.
Tendo em conta que considera assim a justiça social e a justiça climática indissociáveis, a JS Porto apresenta várias propostas para solução ou combate a este problema:
1.      Declaração imediata de emergência climática;
2.      Encerramento ou reconversão das duas centrais a carvão durante esta legislatura e aposta em fontes de energia renováveis e não poluentes. Os efeitos a longo prazo justificam qualquer maior investimento (por razões óbvias…). Destacamos particularmente a energia solar, por ser a mais ecológica no binómio renovável – não poluente;
3.      Cumprir os compromissos acordados no RNC2050, que chegarão para cumprir com os valores previstos no cenário 2,6 RCP.
4.      Apostar na eficiência energética nas casas, nas indústrias, no transporte e na iluminação;
5.      Valorização da economia circular (segundo a ONU, cerca de 50% das emissões de gases com efeito de estufa estão associadas à extração e processamento de materiais básicos – economia linear) enquadrada num contexto de bioeconomia (focar a valorização de recursos biológicos);
6.      Maior relevância e poder de decisão para Associação Portuguesa do Ambiente, APAI e AAE, incluindo poder para vetarem propostas cujo impacto ambiental é significativamente negativo;
7.      Introduzir/reforçar ambientalismo, alterações climáticas e justiça climática no programa de Estudo do Meio do 1º ciclo, no programa de Ciências Naturais do 2º e 3º ciclos e em Biologia no secundário, bem como as componentes físicas e químicas da questão em Física e Química no 3º ciclo e secundário. No Ensino Superior, criar cadeira sobre a temática nos cursos em que isso for pertinente (Biologia, Física, Bioquímica…);
8.      Descarbonizar as cidades e modo de vida urbano:
8.1.   Investir na melhoria dos transportes públicos e descarbonização dos mesmos (os transportes são responsáveis por 24% das emissões de GEE); incentivar o transporte a pé e de bicicleta (propostas: bicicletas públicas; direito a uma bicicleta por criança, algo semelhante aos vales para óculos); taxas para carros mais antigos e/ou poluentes; conferir vantagem fiscal aos veículos elétricos e de melhor desempenho ambiental; aumentar a rede de carregamento de veículos elétricos;
8.2.   Investir/fomentar criação de espaços verdes dentro das cidades:
8.2.1.      Aproveitando espaços livres para criar novos espaços verdes;
8.2.2.      Criando habitação social/pública verde: por exemplo com espaços verdes à volta, cobertura verde ou mesmo com fontes de energia limpas;
8.3.   Descarbonizar a indústria com base nos vectores da transição energética, eficiência energética e também transição digital;
9.      Desincentivar o consumo de carne de vaca (um artigo de Outubro da revista científica Nature aponta para necessidade de reduzir em 90% o consumo de carne de vaca nos países ocidentais), com desvantagens fiscais, aumento do IVA e menor oferta;
10.  Envolvimento e interacção (directa ou indirecta) constante da JS (e do PS) com investigadores da área e também com causas, iniciativas, organizações e movimentos como a Greve Climática Estudantil, a Climáximo ou a Extincion Rebellion.