Visita à Escola Clara de Resende

Resultado de imagem para clara de resende escolaDia oito de janeiro de 2020, a Juventude Socialista do Porto reuniu com a Diretora do Agrupamento de escolas Clara de Resede, Rosário Queirós, com o objetivo de conhecer melhor o sistema de ensino português e as dinâmicas (problemas e possíveis soluções) com que a escola atualmente se depara, ao mesmo tempo que procurei conhecer a perceção de quem trabalha de facto no terreno.
Neste sentido, apesar da reunião ter sido muito enriquecidora em diversas temáticas, aponto aqui alguns pontos essenciais sobre a mesma:

1. O subfinanciamento das escolas foi, desde logo, o primeiro ponto levantado pela Sra. Diretora, especialmente a falta de financiamento em relação aos recursos humanos, isto é, os funcionários não-docentes que devido ao cálculo de rácio entre o número de estudantes e funcionários atribuídos não é suficiente para cumprir em pleno a sua função, como o acompanhamento e supervisão dos estudantes no seu tempo fora de aulas, acrescentando-se a dificuldade de contratação de funcionários que devido ao demoroso procedimento de concurso público, a ausência de elementos na equipa de funcionários é prejudicial ao normal funcionamento da escola;

2. A flexibilização curricular, que permite a gestão autónoma da escola sobre o currículo em 25% funcionaria se a carga de trabalho dos professores, principalmente burocrática, não fosse demasiada para a sua efetiva aplicação, acrescentando-se que o envelhecimento da classe docente é também um fator obstaculizante na adopção de novos métodos pedagógicos ou na introdução de novos/diferentes conteúdos programáticos. A título de exemplo, a pertinente interdisciplinariedade entre professores ao lecionar a mesma aula, não é exequível pela falta de tempo dos tempos em preparar a coordenação de uma aula ou adaptar-se aos estilos idiossincráticos de cada professor;

3. O aspeto arquitetural das salas de aula são também um problema, principalmente em escolas mais antigas, porque foram projetadas para metade do número de estudantes que agora frequentam o ensino, resultado da democratização (obrigatoriedade do ensino até ao 12º ano) e dos sucessivos aumentos de estudantes por turma, este fator deveu-se por uma opção de viabilidade financeira e não por questões pedagógicas, ressalvando que há sempre uma perda na qualidade do ensino quando o as aulas são lecionadas para um grande número de alunos;

4. As novas tecnologias, e leia-se "tecnologias atuais" que já estão tão democratizadas e transversais à população que já podem ser consideradas novidade, como é o exemplo da utilização do telemóvel. Este ponto foi referido como uma ferramenta positiva em contexto de sala de aula no auxilio ao professor e na aproximação à realidade do próprio estudante. O viés da situação, é que ainda existe um estigma em relação à utilização de telemóveis no contexto de sala de aula, com a maioria das escolas e dos professores a proibir a sua utilização, principalmente por causa da distância geracional entre uma classe docente distante duas gerações da atual geração de estudantes, e da sua reticência, insegurança e incompreensão na utilização dessas tecnologias;

5. Discutiu-se a hipótese de que a efetiva flexibilidade curricular passarei por eliminar o atual modelo organizacional das áreas de ensino (Ciências e Tecnologias, Humanidades, Artes,...), para um sistema de créditos que permitisse ao estudante escolher as disciplinas que mais lhe interessassem, sendo que teria que concluir um certo número de créditos, como é similiar ao sistema do Ensino Superior ou da escola privada CLIP;

6. É notória, também, a dificuldade em compatibilizar as metas, objetivos, o perfil do aluno e as Aprendizagens Essenciais, que por si são excelentes documentos orientadores, contudo são muita das vezes obstaculizadores ao processo de ensino-aprendizagem que cada professor pretende adotar, quase como a ideia de que o 
, porque quarta em parte a sua liberdade de adotar ou explorar conteúdos que ele próprio desejaria e não é possível pelos objetivos ou metas impostas;

7. Referiu-se o exemplo singular da disciplina de História em relação ao constante aumento de conteúdo programático, visto que a História é talvez a disciplina que tenha que adotar mais mudanças por causa de uma realidade global em constante mudança, contudo o problema é que ao introduzirmos novos conteúdos relativos aos acontecimentos mais próximos, os conteúdos primeiros (como a Antiguidade) não são retirados, havendo uma tendência e o sobrecarregamento tendencial nesta disciplina;

8. Lei da autonomia não funciona na prática porque exige das escolas um funcionamento autónomo mas dentro de um enquadramento do Ministério da Educação, o que não me permite uma efetiva autonomia das escolas. Diga-se, por exemplo, na seleção dos próprios professores escolhidos pela Direção da escola, que na opinião da Sra. Diretora, apesar da possível perversão por "troca de favores" ou "caciquismos", seria uma excelente medida para melhorar a qualidade da equipa docente de cada escola, acrescentando-se, ainda, que tornar possível a exclusão de "maus" professores, isto é, professores que não cumprem o mínimo dos requisitos científicos e pedagógicos, assim como não se reveem na cultura escolar, seria positivo para o aumento da qualidade do ensino. Também, ainda, que a possibilidade de escolha da escola dos seus professores, contribuiria para uma maior diversidade da faixa etária dos professores, e não como ocorre no modelo atual em que, por concurso público, os professores com mais experiência (e, por isso, com mais idade) são escolhidos à frente de novos professores, que sucessivamente não têm oportunidade de integrar o sistema de ensino;

9. A questão da municipalização das escolas, que atribui a responsabilidade das escolas do município à Câmara Municipal, apesar de descentralizar e aproximar as escolas do poder político, pode também criar perversões no sentido do projeto educativo da Câmara divergir das suas escolas ou de haver o receio de influências políticas na escolha da Direção das escolas;

10. Referir que é fundamental a aproximação dos pais dos estudantes à escola, de forma a que o projeto educativo da mesma seja permeável aos contributos da comunidade, aumentando, também, a contribuição dos pais na educação dos seus filhos;


11. Por fim, é criticável a avaliação dos professores, visto que criou uma competitividade entre os professores pela nota por causa das cotas que existem em relação à classificação de Excelente, Muito bom, entre outros. Acrescente-se ainda, que os "Não Satisfaz" são raros, apesar de haver professores a quem poderia ser atribuída essa nota, contudo, existe o factor de que isso afetaria a imagem e o funcionamento normal da escola, ao mesmo tempo que poderia criar um clima indesejável entre os professores e entre os professores e a Direção.