Teremos, no próximo sábado, e, na senda do que tem sido hábito, ano após ano, uma evocação formal do 25 de Abril de 1974 na Assembleia da República. Nesta evocação, estarão presentes 130 pessoas, das quais 77 são deputados eleitos, contra as 700 que o ano passado marcaram presença na cerimónia.
A laborar no parlamento nas últimas semanas, porque a
democracia não cessa em tempos de pandemia, têm estado também 77 deputados. Não
haverá, portanto, um ajuntamento superior àquele que vai ter lugar na sessão
parlamentar da próxima quarta-feira.
Esta cerimónia não é uma celebração individual, nem
sequer é uma celebração exclusiva de um grupo de deputados, é uma cerimónia
coletiva de celebração da Democracia e da Liberdade, na qual todos nós,
portugueses, estaremos representados pelos deputados. É uma cerimónia
concentrada e restringida, contrariamente ao que é apanágio num tempo de
normalidade, e respeitadora das indicações da DGS, não fosse obrigatória uma
distância entre participantes, maior do que a que tem sido exigida aos
deputados nas últimas semanas.
A celebração do 25 de Abril é importante, ainda mais
nestes tempos de exceção, porque celebra a Democracia que permite, por exemplo,
que este estado de emergência, que dá fortes poderes ao Estado para coartar a
nossa liberdade, seja apenas temporário.
Neste dia, celebramos as grandes conquistas que
nasceram no pós-25 de Abril, como aquela que é a nossa maior salvaguarda nestes
tempos negros de pandemia, o Serviço Nacional de Saúde. Hoje somos todos SNS,
mas nem sempre foi assim. Se o temos, a Abril o devemos.
Esta celebração permite-nos, ainda, recordar e
agradecer a todos aqueles, homens e mulheres, que deram a sua vida para que
hoje sejamos livres e vivamos numa sociedade mais justa e fraterna.
Há aqueles que criticam a mensagem que uma celebração
destas pode passar quando pedimos diariamente reclusão ao povo português. É
preciso, pois, compreender que esta será, como abordado em cima, uma cerimónia
concentrada num único local e que respeitará as recomendações da DGS.
Há aqueles que, porventura por desinformação, pensarão
que a celebração ocorrerá com a mesma afluência que em anos anteriores, o que
já pudemos comprovar que está longe de ser verdade.
Há aqueles que reconhecem esta celebração, mas não lhe
conferem a devida importância. A estes será importante todos os dias recordar
as conquistas que Abril nos trouxe e que a liberdade e a democracia são uma
luta sempre inacabada, por isso, importa celebrá-las.
Há aqueles que não aceitam de forma alguma o progresso
que o 25 de Abril significou para Portugal, porque para estes saudosos do
antigo regime os presos políticos eram delinquentes, a tortura era excesso de
zelo dos carcereiros e a fartura que lhes decorava a mesa, era uma realidade na
casa de todos os portugueses. A sua ficção choca com a realidade, para estes a
nossa resposta deve ser dada em uníssono: fascismo nunca mais.
Celebremos Abril, no parlamento e em casa de todos os
portugueses, porque temos o dever histórico de nunca deixar fechar a porta
pesada que Abril abriu.
20 de abril 2020,
Bernardo Moreira de Campos