𝗧𝗮𝘅𝗮 𝗥𝗼𝗯𝗶𝗻 𝗛𝗼𝗼𝗱 – 𝗦𝗲𝗿á 𝗾𝘂𝗲 é 𝗱𝗲𝘀𝘁𝗮?

Mais de uma década depois, a famosa ideia de criar uma tributação europeia sobre transações financeiras, carinhosamente conhecida como “Taxa Robin dos Bosques”, volta à mesa das negociações por intermédio da presidência Portuguesa da União Europeia.

Mas, afinal, o que vem a ser esta Taxa que tantos anos demora para ser finalizada e aprovada pelos países membros da União Europeia? Bem, a taxa sobre transações financeiras, na sua essência, visa taxar a compra e venda de ações nos mercados financeiros. Eu sei, eu sei, parece uma loucura que a compra e venda de ações não seja tributada em pleno ano de 2021 onde se necessitam de fontes de financiamento para os programas de apoio às economias europeias, mas é esta a realidade que enfrentamos.

Sabemos o poder do lobby dos mercados financeiros especulativos, mas será que isso se pode sobrepor à defesa dos mais afetados pelas consequências socioeconómicas da desregulação desses mesmos mercados? É evidente que não!

O lobby instalado é de tal maneira intenso, que vozes se levantam acusando que uma taxa desta natureza só faria a União Europeia perder competitividade, ora, passando a citar o camarada João Paulo Correia, “são os habituais fantasmas que são tirados do armário quando se tenta fazer alguma reforma no caminho da justiça e da coesão na UE”.

E é exatamente esse o caminho que deve ser seguido, a União Europeia precisa de utilizar esta ferramenta como mecanismo de desenvolvimento dos seus principais objetivos de solidariedade, coesão, equidade e, acima de tudo, humanidade.

Mas Portugal não está sozinho nesta luta. Alemanha; Áustria; Bélgica; França; Eslováquia; Eslovénia; Espanha; Grécia e Itália estão neste momento comprometidos em fazer avançar esta taxa sobre transações financeiras. Países como a França ou a Itália ou, mais recentemente, a Espanha, já aplicam esta taxa sobre a compra e venda de ações de empresas com sede fiscal nos seus respetivos territórios.

Não se trata de ódio ou aversão aos mercados financeiros, trata-se de tributar e regular milhares de milhões de euros que ficam a circular, muitas vezes de forma muito pouco ortodoxa. Numa altura em que as famílias desesperam porque a moratória da sua casa está prestes a terminar; numa altura em que milhares passam fome e outros tantos milhares perdem o emprego, não se pode permitir que se ignore esta fonte de financiamento que a União Europeia pode utilizar para atenuar esta crise que surge em consequência à pandemia da covid 19.

A tributação do setor financeiro é uma ideia recorrente, que já havia sido trazida por marcantes autores económicos como é o caso de Keynes ou Tobin. Visa, sobretudo, retomar a estabilidade dos mercados; o fortalecimento da autoridade governamental no que concerne à política económica e, acima de tudo, desencorajar os especuladores afastando ao mesmo tempo os perigos do colapso económico a nível global.

Quero ainda salientar que a tributação das transações financeiras constitui hoje, acima de tudo, uma exigência de financiamento europeu em tempos de crise económica e social e também alavanca da justiça e da equidade fiscal. Urge que o setor financeiro seja também contribuinte, tributação esta que vai muito além de apenas gerar receita, vai de encontro com a necessidade de regular os mercados ainda muito liberalizados, salvaguardando a economia real e os interesses dos trabalhadores.

Espero, portanto, que se obtenha o consenso político necessário à implementação da “Taxa Robin Hood” na UE, em paralelo à possibilidade de a mesma vir a ser aprovada também nos Estados Unidos da América já que a mesma faz parte dos planos da administração Biden-Harris, abrindo a possibilidade a uma nova era no sistema financeiro global.


 

1 março 2021

Gonçalo Pinto da Costa