Ontem, dia 24 de Janeiro de 2021, assistimos a uma das eleições presidenciais mais importantes da nossa história democrática. A meio a uma pandemia como nunca antes vista no último século, a meio às dificuldades nos votos dos emigrantes, mais de 4 milhões de cidadãos portugueses foram às urnas. Podia ser melhor? Podia. E é por isso, mas não só, que a juventude de hoje se deve bater.
Para uns, o resultado destas eleições foi normal. Para
outros, como eu, o resultado das presidenciais 2021 revelaram o que temíamos, a
ascensão do neofascismo em Portugal. Mas será esta ascensão motivo para
desespero? Não, claramente que não. Mas é motivo para unirmos esforços e irmos
à luta pela democracia, pelos valores de Abril que tanto prezamos e que tanto
dão ao nosso Portugal.
Mas agora perguntam-me vocês, prezados camaradas, como
se combate esse monstro que é a extrema direita? Expondo-se as mentiras por
eles propagandeadas e as ilegalidades que todos os dias se vão descobrindo.
Mas, no meio de tudo isto, não nos podemos extremar.
Temos de ter a consciência de que, no meio daquele
eleitorado do Chega há pessoas a sofrer; sem emprego; com baixos rendimentos;
fartos da sua vida e com ânsia de progredir. Foram votos de protesto, talvez
irracionais, talvez devido à pandemia e consequente crise económica e social,
que devem ser escutados. Temos de as trazer para o lado da democracia e,
enquanto isso acontece, lutar para que as suas carreiras sejam valorizadas e os
seus direitos e garantias respeitados.
Temos de dotar todas as pessoas, independentemente da
sua idade, género, espectro político, credo, de mecanismos que permitam a eles
próprios distinguir o que é bom do que é mau. Distinguir aqueles que se
aproveitam dos mais fracos para ficarem mais fortes e com mentiras e ilusões
assaltarem a democracia e matarem aquilo pelo que tantos homens e mulheres deram
a sua vida, a Liberdade.
Mas não, a esquerda não foi a grande derrotada nestas
eleições presidenciais. A esquerda, foi sim, pluralista. Aliás, no que concerne
ao Partido Socialista, este pluralismo de ideias é já muito conhecido e
amplamente respeitado pelos valores democráticos que este partido defende.
O Partido Socialista foi, se a um partido se pode
atribuir uma vitória moral, o claro vencedor. Na mesma noite, socialistas
ajudaram à recandidatura do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa enquanto que outros
tantos ajudaram a Dr.ª Ana Gomes a superar a extrema direita colocando-os num
terceiro lugar nada prestigiante. Já para não falar o apoio que alguns
militantes socialistas prestaram às candidaturas de Marisa Matias e João
Ferreira.
Mais uma vez, a direita fica muito mal na figura. Fica
mal porque ataca o PS numa noite de eleições presidenciais onde, por momentos,
podíamos pensar que o Sr. Primeiro-Ministro, o Dr. º António Costa, havia sido
candidato presidencial. Fica mal porque chama a si mesma a vitória de um
Presidente da Républica que venceu indiscutivelmente, ganhando em todos os
distritos e puxando para si eleitorado dito de esquerda e de direita.
Mas fica também mal porque, o líder do principal
partido da oposição, pelo menos na teoria o é, acabou por ter um discurso de
completa aceitação da extrema direita racista e xenófoba. Não obstante a ter
aceitado o crescimento deste tipo de movimentos antidemocráticos, decidiu
glorificar alguns feitos eleitorais do Chega na noite de ontem e atacar a esquerda
democrática. Que sentido faz, afinal de contas, cantar vitória pela reeleição
do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se, de seguida, o próprio líder do PSD
vem criticar a postura do Presidente para com o Primeiro-Ministro?
Fica, por isso, a ideia de que a direita continua
perdida em si mesma. É verdade que agora as forças de extrema direita
encontraram uma voz na política para as suas ideologias, e afastaram-se do PSD
e do CDS/PP. E, nisso, também muita culpa tiveram as últimas lideranças destes
dois partidos políticos.
Por fim, gostaria de deixar uma mensagem às gentes do
Porto, ontem foi uma noite que me causou um imenso orgulho em ser portuense.
Ontem, o partido neofascista com ideais racistas e xenófobos não conseguiu o
segundo lugar em nenhum concelho do distrito do Porto.
Como Almeida Garret havia dito sobre o Porto, “Se
nessa cidade há muito quem troque o V pelo B, há muito pouco quem troque a
honra pela infâmia e a liberdade pela servidão”.
25 janeiro 2021
Gonçalo Pinto da Costa