Solidariedade com as mulheres polacas

A JS Porto manifesta solidariedade com as mulheres polacas e indignação com o governo do mesmo país, pela promulgação de uma lei que torna praticamente impossível a interrupção voluntária da gravidez legal, livre e gratuita - apenas permitida em casos de violação, incesto ou com gravidez de risco para a mãe.

Acreditamos que cada mulher deve ter liberdade sobre o seu corpo, e que a mesma deve ser um imperativo categórico, nunca colocado em causa e muito menos por uma agenda conservadora patriarcal que, em muitos casos, traz apenas profundos sentimentos de dor e infelicidade à mulher. Lembremos que a posição conservadora/pró-vida não é sustentável. Para além das situações mais evidentes, a razão de fundo é que o Estado não tem o direito de ajuizar moralmente através da aplicação da Lei questões do foro individual. Acresce-se que, se considerarmos que a condição de "pessoa" se define, primeiramente, pela autoconsciência, podemos concluir que um feto, por não a ter (até pelo menos às 10 semanas), não pode ser considerado pessoa, ou seja, o aborto não é, nem pode ser, ética e logicamente equiparado ao homicídio, como defende a postura conservadora.

Acreditamos também que o aborto deve ser não só legal mas também livre, gratuito e universal e enquadrado no Serviço Nacional de Saúde, e que por isso defesa dos direitos das mulheres e a defesa acérrima do SNS são indissociáveis. A liberdade sobre o próprio corpo não pode pertencer apenas a algumas, e não pode ser tida como uma mera oportunidade de negócio e de lucro para os grandes grupos económicos.

Que isto sirva também de sinal para as mulheres portuguesas e de todo o mundo. Aquilo que parecem liberdades garantidas à priori não o são. Muito menos nos dias de hoje. É fundamental continuar a lutar. Para que nem mais uma.


28 janeiro 2021