No sábado, assistimos ao debate presidencial, entre Ana Gomes, candidata independente, apoiada pelo partidos LIVRE e PAN, e Marcelo Rebelo de Sousa, também ele candidato independente, apoiado pelo PSD e CDS-PP, Presidente da República em exercício.
Sem qualquer dúvida, este foi, para os eleitores, o
mais ansiado debate deste ciclo, posto ter sido a única vez em que juntamos
dois candidatos que convictamente se identificam como filhos da democracia, do
centro moderado, embora muito diferentes: um de centro-direita, a outra de
centro-esquerda. Duas figuras que lutam, qual confronto de titãs, dentro das
suas áreas políticas, e que certamente representam um perdurar das duas grandes
áreas da política portuguesa desde abril, dando-nos uma sensação de “eterno
Estado de abril”; um perdurar de dois polos sempre presentes.
Consideraremos, assim, e entre nós, que este debate
foi o que melhor e devotamente representou não só as áreas de onde os
candidatos são originalmente oriundos, bem como também os representou na sua
efetiva personalidade e modo de agir.
É assim, e certamente, de realçar a sempre presente
perspectiva pragmática de Ana Gomes, que não só realçou o tardio marcar das
eleições pelo PR, no limite do prazo máximo estipulado por lei, como também
relacionou, e com grande engenho, tal facto com uma ausência de previsão do
modo de voto nestas eleições , ocorrências essas que preocupam todos os
candidatos; ao passo que Marcelo se barricou numa perspetiva institucional,
tentando-se proteger, sempre, com uma constante falta de capacidade de juízo
político, no aparelho jurídico-constitucional do Estado.
Já quanto ao ponto em que os candidatos mais
divergiram foi relativamente ao grande “elefante” da sala destas eleições
presidenciais, André Ventura, e o seu partido Chega!, tendo defendido Marcelo
uma luta pela tolerância democrática por todos os partidos políticos,
defendendo uma “luta pela moderação”, ao passo de que Ana Gomes se manteve na
sua postura interventiva, e no tom judicialista que tão bem lhe conhecemos,
insistindo numa intervenção judicial de apreciação de um partido que, segundo a
mesma, se identifica como uma fonte de práticas de discriminação, bem como de
incitamento ao ódio e à violência, fazendo a mesma uma correta referência ao
famoso “paradoxo da tolerância”, de Karl Popper; tendo este mesmo assunto, e
seus corolários, dominado, e infelizmente, grande parte do debate presidencial.
De uma maneira geral, poderemos, assim, referir que
ambos os candidatos evidenciaram uma eventual crise, um limite por assim dizer,
aos temas pelos mesmos abordados, tendo a fasquia e nível de cordialidade entre
os dois permanecido relativamente baixa, num debate onde se esperava,
certamente, uma maior troca de ideais e posicionamentos do que mútuos paradoxos
de atenção e de liberdade, para os quais ambos ambos apresentam diferentes
interpretações.
Embora que um pouco mal conseguido, por ambos, creio
que este debate se resumirá à seguinte frase de minha autoria: “Manter a
dignidade, defender a nossa liberdade, e respeitar a dos outros”, sendo este o
mote que, a meu ver, melhor representa estas duas personalidades, e que melhor
representará o desígnio do próximo Presidente da República Portuguesa.
11 janeiro 2021
Miguel Marta